A cidade
Anda quente anda fria
Anda cheia anda vazia
Aquecendo a economia.
Esfriando o coração da gente
Esvaziando noite e dia
Enchendo de orgulho o gerente
Acorrentados da monotonia
Maria às três da manhã já dá bom dia
José às quatro já está de pé
João às cinco pega a condução
Maria atravessa o enxame
Para ir servir na casa da madame
Que se incomoda com o odor
Dos homens de cor.
João chega na construção às seis
Para pagar as contas de fim de mês
Veja que contradição não paga o que constrói
Nem à prestação
Favela, colmeia de migalha,
Feita de papelão e palha
Labuta, barro e navalha
Formigas da democracia
Acorrentadas à batalha
Pisoteadas ao meio-dia
Fazendo com que menos valha
Maria às três da manhã já dá bom dia
José às quatro já está de pé
João às cinco pega a condução
José, motorista e trocador
Dando de trabalhar a quem trabalha a dor
Dor o mês inteiro
Domingo, missa, bola e pandeiro
Alforria da senzala pra favela
O que não mostrou o enredo da novela
Que José Maria E João
Assistem todo dia na televisão