Se me deixarem as palavras
Se me deixarem os amigos
Ou os anos me abandonem
Ao sabor de alguma onda
Ao sabor de ondas paradas
Enquanto estou bem viva
E posso cantar a vida
Talvez tenha tempo ainda
De dispor da minha vida
Preparando a minha ida
Se posso cantar a vida, vida, vida...
Porém me vejo buscando
Me vejo às vezes buscando
Com meus olhos de cirança
Pelo vidro da janela
Uma cor lá nas montanhas
Os mais velhos me disseram
Que era inútil a procura
Mas um sonho não me cansa
E apesar de ser bem grande
Sou menina na mirada
Me vejo às vezes buscando vida, vida!
Se envelheço nas palavras
Se envelheço nas palavras
Por favor tranca essa porta
E foge dos tantos anos
De uma voz que já se apaga
Que não há de me dar pena
Que não me dará mais pena
E andarei nos arvoredos
Para escutar o que cantam
Novos pássaros crianças
Que não me darão mais pena, vida, vida!
E se a morte chega agora
Se chegou para buscar-me
Pode entrar na minha casa
Porém saiba desde agora
Que não poderei amá-la
E se tenho de ir com ela
Se tenho que ir com ela
Tudo que posso deixar-lhes
Será cinza será terra
Música da minha vida
Quero que cantem comigo, vida, vida!