Era um verde de se assombrar
Canto doce do sabiá
Era um gosto de açaí
Tinha histórias de sucuri
Tinha a luz da manhã
E a voz de uma cunhatã
Tanta água, pé de araçá
Vinha iara pra enfeitiçar
Lá na mata, ingá, cipó
Era a terra do kaiapó
Luz de fogo e luar
Era um reino pra respeitar
Queima o verde pra se plantar
Queima pé de araçá , cipó , queima o sabíá
Queima a cunhatã, a mata, luz da manhã
Queima iara, canção, céu, voz , chão . -
Tem canela pra se levar
Tem pimenta, que bela, tem, alma pra salvar
Leva o cravo pro mar , ai, leva o que há
Deus proteja a missão, vai, vai,
Mata funda , igarapé
Desce o rio o tucunaré
No silêncio do caetê
Um trovão faz estremecer
Brilha a luz guardiã
Rompe a noite a voz de tupã
Pinta o rosto do anhangá
Curupira e boitatá
Vem do mato jurapari
Da estrelas, vem guaraci
Chama fogo e luar
Que a guerra vai começar
Tira a mata pra se plantar
Tira tucunaré , tupã , tira boitatá
Tira igarapé, estrela, fogo e luar
Curupira, trovão, céu, voz, chão
Bota o gado em seu lugar
Bota soja na terra, põe, fogo pra queimar
Vai madeira pro chão , vai, leva o que há
Leva arara, azulão, vai, vai
Era um verde de se assombrar
Dois caminhos num só lugar
Cristo, padre, pajé, tupã
Veio d´água, sol da manhã
Mata virgem , tajá
Uma história pra se contar