Um dia eu vou-me embora, meu bem, um dia eu vou-me embora
Luz que ilumina lá fora, meu bem, apagou faz uma hora
O homem que um dia veio matar, matou e nunca morreu
Senhora me disse que ama alguém, acho que esse alguém sou eu
A mísera fonte d'água secou e os peixes apodreceram
Os filhos rebeldes de hoje em dia, os pais não obedeceram
Tá tudo tão claro, tudo ficando pra lá de muito escuro
Tá tudo tão preso, preciso fazer um baita de um furo
Laranja que dá no pé de goiaba, que coisa essa confusão
Diretos iguais pra toda pessoa, não são totalmente em vão
A mulher que um dia segue o instinto, num outro disposição
O acidentado saiu correndo, andando na contramão
Aqui ninguém mais fala de paz, aqui ninguém quer mais nada
A terra encantada já não nos espera, não tem mais duende e fada
O mundo tá tão estranho, ao mesmo tempo muito bonito
O que antes era realidade hoje não passa de mito
Tá tudo tão limpo, tão desorganizado
Tá tudo tão sábio, tudo mal-educado
O padre cansou de rezar na igreja, tá rezando no senado
Agora até em roque santeiro, tem gente que é bem amado
A infância perdida no meio da rua, bebês nascem de proveta
A menina hoje apanha tão nua por esquecer a caneta
Aqui todo mundo entrou em extinção pro resto da eternidade
Animais começaram a roubar, aprendem com a humanidade
Polícia lá fora, não posso ir pra janela, não quero morrer tão cedo
Fanfarra aqui dentro mas não escuto, prefiro morrer de medo
De medo do batuque, da batida, do barulho, da tormenta que aqui acontece
Apanho, levanto, eu caio, descanso e o corpo é quem padece
Nunca mais luz, nunca mais reluzente
Nunca mais dente, nunca mais sorridente
Nunca mais trabalhar, nunca mais dinheiro
Nunca mais vida, nunca ser brasileiro