Na minha alcova a luz é uma sombra
Que me aquece do frio que fende
E nela busco o brilho que alumia
O passo que me arrasta e me prende
Há um homem no canto do quarto
Munido de uma lanterna e um cajado
Como um carrasco que espera uma ordem
Mantendo-se gélido e calado
Na outra ponta uma senhora espreita
De olhar atento rompendo o vazio
Com uma mão segura numa vela
E com a outra protege o pavio
Vem de lá fora um trovão que apavora
Cujo ruído na parede racha
O susto que neste aposento paira
Tinge de fogo o ar como uma acha
Rebenta um corropio entre as partes
De um lado e para outro sem norte
A senhora com a vela cremada
E o homem a lutar contra a morte
A chama se apega na sua roupa
Consumindo o corpo em agonia
Do grito imenso que da voz se solta
Constata ser o seu último dia
A senhora em tão dantesca visão
Perante o corpo que ali jazia
Ajoelhada em pranto pediu perdão
Assumindo o que ali acontecia
Da minha alcova em brasa eu me remeto
À descoberta do místico oculto
E se na sombra essa luz eu encontro
É porque na luz não passo de um vulgo
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