Desempregada
A lista telefônica
Foi pedir emprego
Em tudo quanto era sebo
Desesperada
Já tava ficando afônica
Mas no Sebo do Messias
Em meio a tanta velharia
Conseguiu uma vaga de peso
Peso de porta
Calço de mesa
Mesa de truco
Porta caneta
Perdia folha
Ficava velha e se achava feia
Até que um dia
Aborrecida
Apodrecida
Despromovida
Foi esquecida
Em uma caixa de papelão
Encaixotada
Virou comida
De tantas traças
Enraivecidas
Estraçalhada
Esmigalhada
Já se extinguia quando o velho Messias
Resolveu mostrar que tinha coração
Foi pra doação
Viajou pra longe
E de mão em mão
Foi parar nas mãos
De um artista de renome
Internacional
E esse foi o seu final
Virou obra de arte na Bienal
Afinal
Foi esse o seu final
Virou obra de arte
Virou obra de arte
Virou obra de arte na Bienal