Carro de boi
(milton primo / miguel carneiro)
Para laura benevides carneiro, minha filha
O carro de boi
Rangendo na vereda
Tia donana de candeeiro aceso
Imersa em oração
Eu transido de frio
Dormindo sob a manta de couro
Perdido naquele chapadão
Caldeirão dos negros, morro da cabeça do tempo, serra do corcovão
O carro de boi
Rangendo na ladeira
Donato carreiro gritando
Feito uma assombração
Meu avô augusto
Queimando pindobas
E o brilho dos relâmpagos
Clareando o sertão
São bartolomeu, bom sucesso, boqueirão
O carro de boi
Rangendo na malhada
A estrada deserta
E o fogo corredor no tampão
Três juntas de boi manso
Canzil, canga e cambão
No outono das minhas lembranças
Desaparecendo no meu riachão
Tocós, sacraiú, rompe gibão
O guieiro macarinho
Sumindo, subindo, sumindo...
Aqueles seis barbatão
Ê mundo de meu bom deus!
Ê, ê, ê... sertão...
Ê mundo de meu bom deus!
Ê, ê, ê... sertão...