tranco-me num quarto minguante
alegre mas com lágrimas nos olhos
dou-lhe de presente um piolho
e a memória de meu corpo ausente
há festa, minha festa no escuro
nenhuma fresta de luz no muro
lá fora é meia noite
por dentro sou noite inteira
aplico-me um belo açoite
estou nua, estou cheia (é lua)
nenhuma visão de presente
profeta do passado, eu juro
tranco-me num quarto crescente
proveta do futuro e duro
jogo o terço do quarto no quintal
faço dessa alma um quartel
saio fora do real
e rasgo seus escudos de papel
pois é chegada a hora de pular da alcova
da cova e sapatear no campo minado
munido de vida nova
lá fora é meia noite
por dentro sou noite inteira
aplico-me um belo açoite
estou nua, estou cheia