Cai a tarde de inverno impiedoso e Francisco e Leão sob a neve caminham
Vão tornando à Santa Maria com fome e com frio ao final de outro dia.
Frei Leão vai na frente ligeiro,
Frei Francisco o chama e lhe diz:
Frei leão toma nota se queres saber o que é a perfeita alegria.
Se nós tivermos a graça de Deus de pregar o Evangelho e a cruz
e por obras e exemplos pudermos levar a Jesus.
E convertermos os homens à fé, até mesmo os de mal coração,
Frei Leão isto ainda não é a perfeita alegria.
Imagine Leão que Deus nos tenha dado a graça de a todos curar
de fazer ver a cegos, a coxos andar, surdos ouvir e mudos falar.
E que até os demônios fugissem ao comando de nosso olhar,
e que os mortos nós ressuscitássemos, isto não é a perfeita alegria.
E se falássemos todas as línguas com o dom de bem comunicar,
transformando os reinos da terra em reinos de paz.
E se soubéssemos toda a ciência, e os segredos da terra e do mar.
Frei Leão isto ainda não é a perfeita alegria.
Mas então, Pai Francisco, o que é a perfeita alegria?
Se ao chegarmos ao nosso convento e batermos depressa esperando entrar,
e o porteiro do lado de dentro ao invés de abrir põe-se assim a falar:
Quem sois vós que assim importunos nesta hora nos incomodais?
Somos nós, teus irmãos, Frei Leão e Francisco que chegam e querem entrar.
E Frei Leão se o porteiro disser que é mentira e que não abrirá
que encontremos um outro lugar em um canto qualquer.
E se nós diante da porta fechada, sob a noite e a neve que cai
conservarmos a paz, isto é a perfeita alegria.
Mas se nós insistirmos em pranto que abra que tenha piedade de nós,
pois com fome e tão necessitados na noite não temos consolo e lugar.
E se então o porteiro sair, empunhando o bastão a gritar.
E bater em você e em mim muito mais nos deixando no chão a chorar.
E Frei Leão, se for Deus que tal faz, que nos deixa na noite e na cruz,
se entendermos que este abandono imita Jesus.
E se nós diante da porta fechada, sob a noite e a neve que cai,
Conservarmos a paz, isto é a perfeita alegria.