De que adianta o amor
Figurado no rosto da criança
Se sua mão branca ou de cor
Dela não quer nem lembrança
Concebida num ato repúdio
Sem vontade e com nojo
Semeada dentro do ventre
Que a carregou com desgosto
Remédio, porrada, cachaça
Sem nascer ela já tomou
Provou um pouco da desgraça
Que sua mãe perpetuou
Na hora do nascimento
Nenhum choro ecoou
Não que tenha nascido morta
Mas não tinha o porquê de um show
Afinal pra que festejar
Se a vinda era indesejada
Afinal pra que festejar
Se uma lata é a próxima parada
Violência, drogas, miséria
Foram as ondas da progenitora
Raiva, rancor, solidão
Sentimentos pra sua vida toda
De que adianta o amor
Figurado no rosto da criança
Se sua mãe nunca desejou
Que ela viesse para a dança
Da vida
Do viver
Do sobreviver
Pra no fim morrer