Um touro escavando terra
Num pelado de rodeio
Arma-se um temporal feio
Tal qual um tendeu de guerra
O céu encosta na serra
Mostrando um negror profundo
Um raio em um segundo
Rasga o céu sem direção
E a garganta de um trovão
Parece engolir o mundo
A bicharada se escapa
Da fúria do aguaceiro
Uma gateada com cria
Busca o galpão do potreiro
E a brazina tambeira
Se planta junto à porteira
Berra chamando o terneiro
Uma garça solitária
Que se desgarrou do bando
Voa procurando pouso
Sumindo de vez em quando
Num vôo silente e rasteiro
Tal qual um barco costeiro
Camuflando um contrabando
A chuvarada desaba
Inundando o pastiçal
E o vento, senhor dos campos,
Vai cimbrando o pajonal
Na sabença dos antigos
A fúria de um temporal
São bênçãos santas do céu
Lavando a Terra do mal
Depois que passa a enxurrada
Toda a natureza muda
Até as nuvens barrigudas
Já se dispersam delgadas
O espelho das aguadas
Borda-se de chuvisqueiro
O arco-íris inteiro
Quando o sol vem ressurgindo
Molda o quadro mais lindo
Que Deus pintou pra um campeiro