Aquele corpo jogado no chão
Rodeado por uma multidão
De curiosos que o olham
Outros passam e o ignoram
Uns falam bem feito
Outros perguntam quem é o sujeito
Uns procuram seus machucados
Outros anotam a placa do carro
Outros chamam a ambulância
Outros julgam ignorância
Alguns acostumados com acidentes
Outros nunca tinham visto de gente
Alguns olham só de longe
Outros olham e se escondem
Outros não chamam a atenção
Passam e logo tem uma conclusão
Um homem atravessando a avenida
Fora da faixa um suicida
Que talvez não tenha emprego
Só seja mais um bêbado
E que o suicídio foi a sua forma
De fugir desse mundo que deforma
Logo a policia chega na cena
O pessoal se afasta pra não ter problema
Testemunhas falam tudo o que viu
Outras falam que só ouviu
Que quando chegou lá já tinha acontecido
E que todos falavam que era suicídio
Depois de algum tempo chega a ambulância
E ai a policia parte pra arrogância
Obriga as pessoas a se afastar
Se ninguém ajuda também não vai atrapalhar
O homem é levado pro hospital
Seu estado físico não é legal
É internado com algumas fraturas
Algumas seqüelas e queimaduras
Tomando soro sendo medicado
É muito pouco todo o cuidado
Um senhor aparentando 58 anos
É meramente lembrado pelos direitos humanos
Quando retoma a consciência recebe alta
E sem acompanhante pra voltar pra casa
É encontrado na rua desacordado
É só mais uma vitima de maus tratos
Novamente ao hospital dessa vez com hemorragia
Com doença ortopédica e pneumonia
Morre duas horas depois e ninguém ouve seus gritos
Pega carona pro outro mundo em um ataque cardíaco
Foi descuidado médico? -foi.
Abstinência ou desprezo? - os dois.
É só mais um indigente em um necrotério
Mas uma cova ocupada em cemitério
Não fazem nem questão quando seu caixão desce
Pra eles é um a menos no INSS
É só um idoso à menos em algum asilo
É só mais uma estrela que perde seu brilho
Não ligam pois não é ninguém de sua família
Queria ver se fosse alguma de suas filhas
Alguém que eles gostam de verdade
Morto por descaso da humanidade