A fila não é indiana
Ela não é americana
Ela não é africana
Ela não é lá da Guiné
Nem do Gabão
A fila é do indiano
Ela é do americano
Ela é do africano
Ela é do cidadão
Que sempre acorda
Atrasado
Pega fila no banheiro
Escova os dentes
No chuveiro
E nem consegue se secar
Todo molhado
Na fila da padaria
A rotina continua
O dia já vai começar
Tem fila lá no ponto
Do buzum
Tem fila pra bater
Cartão de ponto
Tem fila pra comer
No bandejão
Come correndo pra pegar
Fila no banco
Senão não vai dar tempo
De pagar a prestação
Tem fila pra pegar
O elevador
Tem fila pra comprar
No camelô
Tem fila pra falar
No orelhão
Fala depressa
Preocupado com a senha
Pois o número marcado
Se aproxima no telão
A vida passa e essa fila
Que não anda
Vista de cima,
Pelas quadras serpentina
Vista de noite, a calçada
É o seu colchão
Onde ela dorme
Um sono agitado
Um olho aberto
Outro fechado
Não dá mole pra ladrão