Maria milonga, milonga maria
Para de dançar, moleca travessa!
Essa tal de milonga bota a gente lelé
Não larga o pé, não sai da cabeça
Ursinho esquecido, sapato largado
Gato perdido, cabeça vazia
Maria não liga, só liga o rádio
Se desliga do mundo, a vida é bailado
Na hora do sono maria não sonha
Já sonhou o que havia, podia, devia
Sonha de dia, de noite descansa
E o sonho é esperança esperando na fronha
O pai adverte: “houve uma troca!
Essa criança é filha de minhoca!”
A mãe se diverte: “isso é puro despeito!
Você é pé duro, não dança direito!”
A vizinhança futrica e intriga:
“A milonga é longa e alonga o alongado!”
“Rebola maria, tá com pum na barriga?”
“Ô songamonga, vê se dança afinado!”
Um dia o pai cometeu imprudência
Deu um passo pra lá, um pra cá, lá lá lá
De passo em compasso pegou a cadência
E nunca mais parou de dançar
Dança pai, dança mãe, maria e o gato
Brinquedo, sapato, penico e panela
A milonga balança, salta a janela
E me chama pra dança, a vida é um balanço
Poeminha dançando, balançando a palavra
Já vou terminar senão fica longo
É muito risco escrever e dançar
Isso vira rabisco e me arrisco num tombo!