O circo estava repleto
O que tinha de seleto lá da vila se via
O bilheteiro contente
Alegre e sorridente, a todo o povo atendia
O sino com voz sonora
Toca já sem demora, toca pedindo atenção
Os assistentes se endireitam nos assentos
Para assistir a função
E quando a música rompia
O palhaço recebia um telegrama cruel
E já pronto e já pintado
O pobre mudo, acabrunhado leu lacônico o papel
Dizia mui simplesmente
Ontem morreu de repente nossa mãe, Deus a chamou
Os seus olhos de palhaço
Perderam os alegres traços e de lágrimas se inundou
E o povo de espaço em espaço gritava
Encena, encena o palhaço, venha ele pandegar
O pobre enxugando o pranto
Salta lá do seu canto e entra na arena cantar
E dentro da arena
Alegre fazendo cena maldizia a sua sorte
Me perdoe mãe querida
Sou forçado pela vida a sorrir da sua morte
E mal para dentro entrava
O palhaço de novo chorava sem poder se consolar
Oh, mãe querida velhinha
Vês que triste sina é a minha, nem por ti eu posso chorar
E assim é a vida do artista
Para que a plateia assista com prazer sua função
Entra o palhaço escondendo o desgosto
Trazendo o riso no rosto e o pranto no coração