Apenas mais uma história
o impensável a inicia
o improvável continua
o incontável termina
Vidas tomadas
rostos sem expressão
o retrato da família
rebaixada ao medo
Toda alegria que tinham
ceifada pela falsa sabedoria
Numa cena repentina
olhos tristes quase sem esperança
a mulher e seu filho acenando
e bem de longe se vão os viajantes
levando embora a suposta paz
que se apaga junto ao poente
Os pés castigados pela desigualdade
correm sobre a lama morta
onde se misturam lágrimas e sangue
onde os porcos lavaram seus espíritos
A guerra forjada
que tomou corações
levou embora a felicidade
Derrubou as paredes
Mentes aflitas apenas
Tão condenadas quanto a casa onde vivem
cujo teto de barro
esconde angústia e solidão
Olhando para o alto
vendo o céu de cor vermelha
o garoto cheio de lágrimas
imagina como seria
viver longe dos olhos da morte
A mãe calada
apenas estende as mãos
Com a chama da compaixão acesa
debaixo de uma chuva de dor
tentando entender o juízo
o Porquê de tanta devastação
Um urso com luvas de ferro
guarda a fronteira sem causa
o limite entre a vida e a morte
O Pós-Guerra é só um intervalo
entre a miséria e uma nova aflição
Nessa terra onde "desvivem"
muitos são controlados
sem ser preciso amarrar
Apenas o silêncio predomina
Domaram os fracos pela ignorância
como freios na boca dos cavalos
tomaram até o chão onde pisam
Os pés castigados continuam
correm mais longe agora
o garoto percebeu a verdade
Uma visão confusa
ao olhar o céu vermelho
mostrou que a luta chegaria ao fim
existem pedras até a divisa
Mas a luz está sobre ele
na única direção em que se pode olhar
onde não há rancor
nem destruição
A mãe na porta do casebre
olhando com sua alma
O coração sufocado se acalma
um sorriso esboçado
mostrando que já não importa
as pragas estão morrendo
acabou a peçonha mortal
Idéias mórbidas já não os atingem
sugaram toda sua fé
zombaram de sua invalidez
Mas a luta pela verdade
nunca será em vão
Cedo ou tarde ela vem
Apenas mais uma história
o impensável a inicia
o improvável continua
o incontável termina