Osso duro de roer
Pisada forte marca o chão
O lamento que é a voz do coração
Poço fundo de ver
Não há Narciso no sertão
A seca castiga e abre a ferida
Com rasgos profundos de solidão
Num barraco sem telha, estrelas pra ver
Sombra nem de palmeira pra esconder
Farofa de macaxeira pra comer
Água nem de torneira pra beber
A vida não cresce por causa da chuva
Que só cai pra lá
O tempo escurece
A nuvem carrega
Mas nem pra pingar
A criança chora
O pão e agora? Sou eu e o sertão
A vida evapora, a infância vai embora
E o sol mata tudo que nasce do chão
Onde o asfalto não chega pra crescer
Água nem de torneira pra benzer
Onde a chuva não chega pra encher
a lata da lavadeira pra cozer
O mundo gira ao contrário
Nem sempre há o que dizer
Quem escreve a novela da vida
É o personagem que envelhece sem perceber
O mundo gira ao contrário
Nem sempre há o que dizer
Caminha à beira do abismo
Sem ter cuidado com o mau olhado que restou atrás
Num barraco sem telha, estrelas pra ver
Sombra nem de palmeira pra esconder
Farofa de macaxeira pra comer
Água nem de torneira pra beber
Onde o asfalto não chega pra crescer
Água nem de torneira pra benzer
Onde a chuva não chega pra encher
a lata da lavadeira pra cozer
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