Não há no mundo patrício quem não conhece a saudade
Que puxa barbaridade como incomoda um vivente
Rondando constantemente nossas guaxas alegrias
Até fazer moradia dentro do peito da gente.
Eu nem sei bem explicar e poucos sabem também
Creio ser resto de um bem que fica erguido num gancho
Saudade é como carancho no ninho da passarada
É um cusco em noite de geada acoando dentro de um rancho
É minuano que assovia em tardezita de inverno
É guarda fogo de cerno se queimando noite a fora
Saudade é tinir de espora que ao chão batido repica
É tudo aquilo que fica daquilo que foi embora
É queimadura de laço que arde e deixa o sinal
É corcovo de bagual com cincha meio atrasada
Erva ruim em terra hortada que cresce com muito viço
É rodada de petiço correndo em terra lavrada
É o mio-mio do miudinho pelas pastagens do amor
Quem pega sente o sabor amargo do bem-querer
Por que não hei de dizer para falar a verdade
Também sofro de saudade, esse osso duro de roer
Por que será que ela existe só pra fazer-nos doente
Ela é na vida da gente, lhes digo falando baixo
Muito pior que porco guaxo quando nosso peito invade
Se foi Deus que fez saudade de certo tava borracho