Quem já teve um pingo baio
Sabe o que é estar a cavalo
Eu tive um certa vez
Por isto sei do que falo
Um flete baio encerado
Que me deram de regalo
Por muito tempo parceiros
Bebemos da mesma fonte
Quando ainda havia tropas
Muitos dias de reponte
Cruzando vãos e caminhos
Desfazendo os horizontes
Pelas picadas escuras
Trocando orelhas, arisco
Meu baio – gato do mato
Corpo leviano, um prisco
Era um irmão do silêncio
Ou a chispa de um curisco
Que tempo, aquele, meu baio
Das gaúchas comitivas
A peonada da fronteira
Ando de mão pros birivas
Conhecendo os quatro cantos
Da nossa pampa nativa
Só ajeitava os arreios
Pra cruzar no Quaraí
Nadava até de cangalha
Como outro igual, nunca vi
Mal comparando: Um capincho
Cruzado com surubi
Nas estradas e realengas
Dos corredores gerais
Meu baio – lua encardida
Muito chão deixou pra trás
Ou pelos quartos de ronda
Que, hoje, nem existem mais
Das histórias que deixamos
Muitas contei ao meu filho
Quando a saudade gaviona
Pega em armas no sarilho
Dois irmãos de reencontram
Unidos pelo lombilho