Pelo sol quente, vai partindo a Jardineira
Vai deixando a Mantiqueira rumo ao Norte de Minas Gerais
Vamos seguindo de viola e peito aberto
Com o coração meio incerto palpitando sem parar
Jequitinhonha, vai traçando o seu retrato
Onde vivem lado a lado a fome, a riqueza e a fé
Fé que na vida o que vale é o que se cria
No trabalho e na folia semeando a vida no chão
Vai rio, vai traçando o rumo dos homens
Vai rio, semeando o ventre da terra
Vai rio, vai matando a fome dos homens
Vai rio, vai regando o cio da terra
Dona minina pega o barro, bate o barro
Vai passando na peneira, pro danado amaciá
Vai amassando, vai moldando de mansinho
Depois de tudo prontinho põe no forno prá secar
Vai canoeiro, pega o remo, bate o remo
Vai subindo na corrente, joga a rede prá pescar
Apruma a proa, vai cruzando mansamente
Carregando toda gente pro outro lado de lá
Vai rio, vai levando o barro da terra
Vai rio, vai moldando a fibra dos homens
Vai rio, carregando os filhos da terra
Vai rio, vai levando o barco dos homens
Dentro da terra brilha o fogo da riqueza
Que escorre da correnteza roubado de mão em mão
Água marinha, diamante, turmalina
Pedra verde que fascina, tira o Norte do lugar
Repica o sino na capela de Chapada
A bandeira do Divino convida prá festejar
Mãe do Rosário, abençoa os tambozeiros
Junta o povo no terreiro, vamos todos forongar
Vai rio, vai levando o brilho das pedras
Vai rio, vai lavando a alma dos homens
Vai rio, abençoa os filhos da terra
Vai rio, vai povo batendo no seu tambor
Pelo sol quente vai voltando a Jardineira
Vai varando na poeira, um sertão de admirar
Dentro da gente vira tudo do avesso
Muda o canto muda o verso, coração ficou por lá
Jequitinhonha cada dobra desse rio
Representa o desafio do povo desse sertão
Domar a terra e manter a chama acesa
Ter fartura sobre a mesa e a paz no coração
Vai rio, vai guiando o rumo dos homens
Vai rio, semeando a vida na terra
Vai rio, alimenta os sonhos dos homens
Vai rio, vai deitando as suas águas no mar
Vai rio... vai rio...