Neste viver transumante, treze cavalos montei
Treze pelagens distintas, os treze fletes de lei
Era rosilho o primeiro, pêlo de brasas dormidas
Que se recolhem de cinzas velando noites compridas
Foi baio ruano o segundo, pêlo de libras e sóis
Crinas brancas como geadas, matizadas de arrebóis
O terceiro um colorado, pêlo da cor das sangrias
Tranqueava sonando as ventas nas madrugadas mais frias
Tive depois um tostado como pitangas maduras
Bom de campo e de carreira, vaqueano em noites escuras
O quinto foi um gateado, tinha a cor dos pajonais
Pêlo e negaça de puma que se esconde entre cardais
Depois encilhei um mouro, bom de boca e trote bueno
Com pêlo de um poncho pampa, respingado de sereno
Nesse cambiar de montadas, um tempo pra cada flete
Pêlo de açúcar queimado, foi zaino o número sete
Tordilho como as melenas encanecidas de um taita
O oitavo dos meus pingos gostava de um som de gaita
Depois tive um alazão, lindo como flor singela
Nos ranchos que eu não chegava vinham me olhar na cancela
Outro lobuno me lembra, fumaça de bamburral
Pêlo de nuvens escuras pressagiando temporal
Era o décimo primeiro picaço, estrela na cara
Na noite escura do pêlo um lunar na testa clara
Noutra feita um douradilho que em seu pêlo refletia
Lampejos de água correndo ao sol quando nasce o dia
Tem pêlo de seda negra, o pingo que encilho agora
Noite sem lua ou estrelas, sem um sinal pêlo afora
É ele o número treze dos que tive e encilhei
Treze pêlos sem parelhas, os trezes fletes de lei!