Há um rio em mim que vai correndo aberto
Vazio de rumos, transportando mágoas
Às vezes seca pra virar deserto
E não conhece mesmo as próprias águas
Há um rio em mim atemporal e incerto
Que em meus remansos minha paz sesteia
Nas cachoeiras ele vai liberto
E em meus invernos vem trazendo cheias
Há um rio perdido em meu olhar que lume
Mudando os cursos que seu leito tem
Afoga o sol pra refletir cardumes
De estrelas velhas quando a noite vem
Rio percebe a solidão que tenho
Nos olhos gastos que singraram tanto
Deságua em lágrimas regando o cenho
Nos afluentes do primeiro pranto
Por isso mesmo é que navego ainda
No rio dos tempos que se vai no centro
Numa canoa de esperanças findas
Que por teimoso hei de remar por dentro
Há um rio em todos que já foi nascente
Com piracemas de ilusão após
Com corredeiras que se vão pra sempre
E nunca mais podem voltar pra nós
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