Um quintal
Um ponto de fuga, um final
De conto de fada, um serão
De arraia-miúda, um beiral
Miolo de pão.
No vitral
Luz de assombração!
Um sarau no salão
Um rosal e um irmão são...
O ardil
De um cisco no olho, um varal
E um cesto de sonhos ao léu
Um céu na gaveta: o postal
Com ar de museu.
Um degrau
E o salto no breu!
Um feixe de sono por dentro do som
Um clarão!
E o mel do trovão, desigual.
Tudo meu
Pra lá do portão, se perdeu.
Não faz mal
No rol dos descuidos de Deus,
Afinal,
Está conceder a um mortal a ilusão
De ver um chão de quintal.
Um quintal
Um ponto de bala, o frontão
Da casa de vila, o portal
Um sinal de vida, o pregão
O habitual
Coração
E um ponto final.
No gradil, um desvão
Um abril e um gentil cão...
O anel
Da alma penada, a visão
O nó na garganta e o mornal
Da água-furtada, o ladrão
De mãos de algodão
Do local
E a palpitação!
Um gesto de susto, estátua de sal
Solidão
Num calmo verão cordial
Tudo meu
Pra cá do portão se guardou
Menos mal
No rol dos desmandos de Deus,
Afinal,
Está conceder a um igual a ilusão
De ser um grão no quintal
Num pôr do sol crucial...