Apenas dor no mundo inteiro eu via
E tanto a vi, amarga e inconsolável
Que num véu de tristeza impenetrável
Multiplicava as dores que eu sofria
Se vislumbrava o riso da alegria
Fora dessa amargura inalterável
Esse prazer só era decifrável
Sob a ilusão da eterna fantasia
Ao meu olhar de triste e de descrente
Olhar de pensador amargurado
Só existia a dor, ela somente
O gozo era a mentira dum momento
Os prazeres, o engano imaginado
Para aumentar a mágoa e o sofrimento
Misantropo da ciência enganadora
Trazia em mim o anseio irresistível
De conhecer o Deus indefinível
Que era na dor, visão consoladora
Não o via e, no entanto, em toda hora
Nesse anelo cruciante e intraduzível
Podia ver, sentindo o incognoscível
E a sua onisciência criadora
Mas a insídia do orgulho e da descrença
Guiava-me a existência desolada
Recamada de dor profunda e intensa
Pela voz da vaidade, então, eu cria
Achar na morte a escuridão do nada
Nas vastidões da terra úmida e fria
Depois de extravagâncias de teoria
No seio dessa ciência tão volúvel
Sobre o problema trágico, insolúvel
De ver o Deus de amor, de quem descria
Morri, reconhecendo, todavia
Que a morte era um enigma solúvel
Ela era o laço eterno e indissolúvel
Que liga o céu à terra tão sombria!
E por estas regiões onde eu julgava
Habitar a inconsciência e a mesma treva
Que tanta vez os olhos me cegava
Vim, gemendo, encontrar as luzes puras
Da verdade brilhante, que se eleva
Iluminando todas as alturas