Fiquei no grampo do arame
Sem bênçãos pra um recomeço;
Perdi a sombra do mouro,
Achei meu mundo no avesso...
Não quis chorar e fui pranto
Quando entendi que era outro;
Igual no espírito livre,
Mas diferente no corpo.
Voltei só, um fio da crina,
Antes fui parte do mouro;
E ainda guardo os segredos
De pêlo, cascos e couro.
Pedi pras horas dos ventos
Que bordoneavam seu canto,
Pra repetirem minha prece
Sobre a saudade do campo.
Ou me levassem de volta
Banhado, aguada e coxilha;
Pela razão dos silêncios,
Que dormem junto à tropilha.
Onde abriguei tantas noites
E seus feitiços de lua;
Quando fui trança nos dedos
De alguma ‘santa charrua’.
Que talvez cuide do mouro
De mim, pra os olhos de tantos;
Apenas um fio da crina,
Que ficou preso num grampo.
E achou na sombra do arame
Seu próprio mundo ao avesso;
Pra o sereno, feito lágrima,
Benzer um novo começo.