Aprendi a lidar com couro
Quando um franqueiro aluado
Pranchou cruzando um lajeado
E se quebrou num estouro...
Já nem se ergueu mais o touro
Quando eu apeei, me cuidando!
Olhando o pobre berrando,
Saquei a cabo de osso
E fiz sumir, no pescoço,
A folha inteira, alumiando!
Tirei-lhe o couro com jeito,
Fui descascando aos "poquitos";
Nada, sem ser despacito,
Se aproxima do perfeito...
Depois do serviço feito,
Ganha as estacas cravadas
Sessenta e quatro - estiradas
Num terreno decrescente,
Deixando a parte da frente
Para o lado da baixada!
Só depois de bem curtido
Com o mormaço lhe ardendo,
Foi que a coqueiro, lambendo,
Lhe recortou o tecido...
O seu pêlo enegrecido,
Com a pitoca, eu fui raspando,
Tento por tento, tirando
Pra rédeas, buçais e relhos,
Tento por tento, parelhos,
Um por um, os desquinando!
Aprendi a lidar com lonca
Quando um lobuno do meio
Me despejou de um arreio
E se atirou numa estronca...
Eu saí liso da bronca!
Mas o lobuno, coitado!
Além de ser retalhado,
Quebrou a mão e, lutando,
Se degolou, pataleando,
No velho arame farpado!
Aprendi a lidar com trança
Quando um baio, sem pretexto,
Arrebentou o cabresto
Sentando que nem criança!
Eu danço conforme a dança,
Seguindo o antigo adágio...
Trancei outros nesse estágio,
Pra um sentador que mereça,
Fugir, deixando a cabeça
Para pagar o pedágio!
Por isso é que trago os dedos
Picados de tantos talhos,
O coração em frangalhos
De tanto trançar segredos...
Sovei o couro do medo
Com o macete da dor...
No aço do cravador
Abri caminhos da história
Escrita com a trajetória
Das mágoas do trançador!