Manhê! Manhê! Mãe!
Não enche, menino! Não vê que eu tô ocupada?
Mãe, compra uma boneca pra mim, mãe?
O quê? Ah, menino, vai brincar com o seu caminhãozinho, vai!
Não, mamãe, eu quero uma boneca! Eu quero uma boneca!
Ah, menino, vai brincar com aquela espingardinha que o seu pai te deu de Natal!
Por que não vai?
Ah, não, mamãe! Eu quero brincar de casinha!
Quando você era pequeno mamãe estranhou
Em vez do revólver, queria a boneca
O que os vizinhos vão pensar?
Largou o caratê pra fazer balé
E na escola, brigar, não brigava
Nem jogava bola
Vivia com tédio!
Mamãe estranhou
Papai não gostou e logo procurou um remédio
Mas o doutor falou
Cuidado, meu amigo! A natureza tem os seus mistérios
E quando ele fez dezessete primaveras
A sua mãe teve um chilique
Ele tava se maquiando na penteadeira dela
E usando seu vestido mais chique
Papai não gostou
Mamãe desmaiou
E seu pai, desesperado, exclamou
Não! Não pode ser!
Meu filho! Meu filhinho querido!
Ah, meu Deus! Não pode ser!
Meu filhinho é um travesti!
Você foi expulso de casa
E ficou na rua da amargura
Tentou de tudo, mas já sabia
Seu mal não tem cura!
Era menor e foi parar no juizado
De lá pro reformatório foi só um passo!
Mas quando saiu estava bem mudado
Sim, estava bem mudado!
Você nunca mais foi o mesmo!
Portanto, motorista, cuidado!
Mulher bonita de madrugada na rua é um perigo
Pode ser ele!
E você sabe, ele agora é diferente!
Ele agora mudou!
Ele agora anda armado!