Eu não sou ninguém porque não sei falar
Em embrião me encontro só
Por ser ímpar
Por ser de uma cor extravagante
Por ter um andar deselegante
Eu não sou ninguém, ninguém
Deixai-me estar
Minha imagem nesse templo, não vai entrar
Não quero gente para me velar
Não deixem flores no meu altar
Será que ainda há alguém a arriscar
Sua mão por milagres
Alguém a seguir, em vão, as miragens
O inferno é uma invenção
E eu sou um anjo em descensão
Eu não sou ninguém porque estou a dormir
Sonhos em torrente aguardam explicação
Nem Freud, em suta, os ia perceber
Nem coca ou cola iriam convencer
Eu não sou ninguém
Ninguém, já desisti
O ar que consumo, tão raro, termina aqui
Eu cisne, torpe, afino a garganta
Já descem grifos sobre a minha manta
Será que ainda há alguém a arriscar
Sua mão por milagres
Alguém a seguir, em vão, as miragens
E eu sou um anjo em descensão
Três, dois, um... Ai! Colisão