Quando deus fez este mundo, fez do rio a veia artéria
A água é sangue da terra, lhe digo de cara séria
Sou taura na geografia, tirei cinco na matéria
E, a lo largo, se me engano, bobagem pouco é miséria
Meu velho rio uruguai, regra de sangue e de vida
A região missioneira que por ele é repartida
É manso quando nas caixa’, é uma fera na subida
Fazendo roncar enchente mesmo que tigra partida
O uruguai é meu padrinho, pois nele fui batizado
É por isso que eu levo jeito de potro aporreado
É aqui recordo cantando aquele velho ditado
Quem dos seus não puxa a raça não passa dum desgraçado
Minha mãe, uma xirua dessas de pelo trançado
Meu pai, um velho chibeiro que ganha a vida embarcado
Nasci num catre de balsa e, se não estou enganado
Minha primeira chupeta foi a cola de um dourado
Vira o mundo pelo avesso e sempre no vem e vai
Venho lavar as ferida’ nas barrancas do uruguai
Meu velho rio colorado que dentro de mim não sai
E que sempre peço a benção como se fosse meu pai