Sai da frente seu urubu vermelho
Que o flamengo é preto e você é branco
Já vi o mundo de costas pro espelho
E percebi que o nosso tempo é manco
A maestria de amestrar a vida
E chover em pleno pôr do sol
E conviver com as corês da ferida
Que a torcida tras pro futebol
Garrincha fez um gol no céu
Com a nossa bola lua
Pelé fez um de chapéu
E trouxe o futebol pra rua
O futebol e democracia
E da miséria que o craque nasce
E a grande chance de uma família
Dar muitos passos num só passe
E comandar descomandando o tempo
Quem é o juiz da nossa partida
A fome é um time muito violento
Que joga lento consumindo a vida
Esses cartolas que comandam a crença
O popular chicoteado grita
Torcendo para que a ilusão não vença
A verdadeira amargura aflita
O povo reza, torce e se confunde
Sorriso tolo neste mundo cão
Mas a cachaça promove o desbunde
A bola entra e a comida não
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