Já faz tempo desde a última vez que te vi no porto
O teu peso exterior no interior causava desconforto
Mobilidade reduzida, já não há roupa que te sirva,
E a falta de amor-próprio levou-te a amar perdidamente a comida
Já nem te lembras da praia, tão pouco recordas a costa
Quando recordas o quanto nesse fato de banho ficavas exposta
Mas, essas miúdas esbeltas que vês na revista
Têm retoques de photoshop de uma indústria esclavagista
Mana, tu não precisas sequer de ter as medidas certas
Pois tu és uma mulher feita que nunca brincou com bonecas.
Esse espelho não reflecte definitivamente quem tu és
Tu és tão pura e transparente que eu consigo ver através
Ao invés de quem tudo investe no que veste como um escape
No revés és quem investe no que veste como um disfarce
Não deixes que o tempo se arraste, como um problema pendente
Antes que esse peso nefaste te torne numa pessoa doente
Tu vive a tua vida com peso, conta e medida
A obesidade é tão mortal quanto a anorexia
A aparência visual leva a escravidão do corpo,
O desfecho é letal como um cérebro que nasce morto (x2)
Eu pensava que isso passava e que era só uma fase estúpida
Não contava que chegasse ao ponto de me inspirar em ti nesta música
Com a nossa idade não eras a primeira nem serias a última
A viver de olhos fechados sendo que abri-los não resulta
Com o passar do tempo o problema foi crescendo e muito
Eu sabia falar mas tu eras melhor a mudar de assunto
Emagreceste de todo, enfraqueceste ao ponto
De o teu espírito ser tão pesado quanto o peso do teu corpo
Eu digo-te que ainda me lembro de como tu eras há um tempo
Imponente de físico, tendo uma tela de cores por dentro
Da última vez que te vi eu nem te ia conhecendo
Sendo que tinha sobrado muito pouco da cor que eu me lembro
Contaram-me que tens andado a magoar-te às escondidas
E a desnutrição começava a ter consequências mais nocivas
Eu gostava de ser capaz de te ajudar com esse problema
Mas só acaba onde começa e este começou em ti mesma