Só quem teve as sesmarias
Por ofício de campeiro
Sabe o valor desses potros
Baios, lobunos e oveiros.
Eu que tive minha escola
No lombo desses cavalos
Aprendi nessa essência
O telurismo de amá-los.
Eu que tive estas distâncias
Várzeas, coxilhas, estradas
Cortei caminhos a trote
No rumo das madrugadas.
Na procedência charrua
De linhagem e pedigri
Meu cavalo de alerta
É um gavião quiri-quiri.
Até parece que o vento
Me amadrinha e me reponta
Pois quando monto a cavalo
O mundo troca de ponta.
Não me importa matizes
Que Deus inventou pra côr
Qualquer pelagem eu aceito
Se o potro é de bom valor.
E no silêncio dos atos
Compreendo então seus anseios
Num descompasso de orelhas
Mordendo a cambra do freio.
Pra se falar de cavalo
Antes da raça e padrão
Tem que haver sentimento
De fletes no coração.
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