Nessa colméia povoeira
onde fiz arranchamento
amarro fletes de sonhos
nos palanques de cimento
vou bebendo nostalgias
de sangua, pitanga e vento
sesmarias de saudade
não cabem num apartamento
quando a lua se debruça
no arranha-céu dos viveiros
onde arranchei minha alma
no meu exílio povoeiro
coiceia dentro do peito
um coração caborteiro
me sinto um pássaro preso
na angústia de um cativeiro
um luzeiro imaginário
na quincha de um céu nublado
vai apartando o rebanho
de fumaça nos telhados
e uma saudade de noivo
de campo e berro de gado
vou embora pra querência
pra me arranchar no meu chão
amanhã eu ponho anúncio
nos grandes classificados
vende-se um apartamento
no coração da cidade
a preço de ocasião
por motivo de saudade