Ser sertão não é só ser mata virgem
É ser pedras de barrancos corroídos
É ser corpo de um gigante adormecido
Que dos velhos ancestrais perdeu a origem
Ser sertão é ser lar da natureza
Onde flores e animais se agasalham
É ser campo, é estender verde toalha
Quando a lua para os filhos serve a mesa
É preciso se fazer parte do chão
Pra se sentir sertão, sertão
Ser sertão é emprestar seu corpo agreste
Para ser retalhado por caminhos
Borboletas na barranca do riozinho
Quando o céu de azul todo se veste
É orquestra de insetos e cascatas
É o vento quem balança a cabeleira
É o ninho moradia derradeira
Da estrela que se perde sobre a mata
É preciso se fazer parte parte do chão
Pra se sentir sertão, sertão
Ser sertão é cipó entrelaçando
O frondoso tronco velho da paineira
É a rolinha a chamada companheira
E o gavião a cantar de quando em quando
É a onça com seus olhos de campeeira
Num mistério silencioso do descanso
É o gostoso sussurrar do vento manso
Sobre o berço onde dorme a lua cheia
É preciso se fazer parte do chão
Pra se sentir sertão, sertão