Enquanto anda pela rua o silêncio lhe persegue,
Há ruídos fortes e há zunidos leves,
Resta a paranóia, alguém que observe,
Alguém de olhos grandes, alguém de passos leves.
A chuva me molha,
A chuva é um retrato da alma da cidade.
Lábios na xerox,
Eu tenho fotocópias das gotas sobre a cidade.
Enquanto pensa na panela que esqueceu no fogo,
Enquanto pensa na chaleira que furou de novo,
Enquanto pensa na lata que estourou no teto,
Enquanto pensa no que teve que limpar de novo.
Desejos inox,
Eu tenho coleções de prédios na calçada.
Imersos na lama,
Eu vejo a sexta-feira alagada...
Enquanto pensa na vida, enquanto pensa na morte,
Enquanto pensa no passado, o que perdeu e sua sorte,
Alguém que já se foi, alguém que não retorna,
Alguém em quem se pensa a cada esquina que se corta.
A chuva me molha...
A água que desenha o pára-brisa do carro
Lava teu cabelo, lava teu sapato,
A água que escorre do teu rosto molhado
Vai pelo bueiro, desce do telhado.
A chuva não para...