Meu Deus, eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar engravatado,
A minha cama é um pedaço de esteira,
E uma lata velha me serve de cadeira.
Minha camisa foi encontrada na praia,
A gravata foi achada na Ilha da Sapucaia,
Meu terno branco parece casca de alho,
Foi a deixa de cadáver, num acidente do trabalho.
O meu chapéu foi de um pobre surdo e mudo,
As botina, foi de um velho, da Revorta de Canudo,
Quando eu saio a passeio, as damas ficam falando,
"Trabalhei tanto na vida, o malandro tá gozando !"
A refeição é que é interessante,
Na tendinha do Tinoco, no pedir eu sou constante,
O Português, meu amigo sem orgulho,
Me sacode um caldo grosso, carregado no entulho.