Cerquei minha propriedade com fios de arame farpado
Cortaram a cerca de noite, levaram parte do gado
De manhã fui à cidade noticiar ao delegado
Mostrando papéis na mesa disse estar muito ocupado
Tornei a erguer a cerca tomando muito cuidado
Arame eu pus em dobro para dormir sossegado
Pra redobrar a vigília soltei meu cão silverado
Que pra cuidar do rebanho por empreita foi treinado
Pouco mais de uma semana vejam só o resultado
Ouvi latidos no pasto, o ladrão estava acuado
Quando voltou o cachorro eu fiquei desconfiado
Meu cão trazia na boca um brasão todo esmaltado
Meu sangue ferveu nas veias, virei um touro enfezado
Passei a mão na dois canos, um revólver cada lado
Montei ligeiro o tordilho que eu deixei encilhado
Meu cachorro foi levando o distintivo arrancado
Antes que o galo cantasse eu cheguei no povoado
E lá na delegacia eu entrei envenenado
Na frente havia um cavalo que ainda estava suado
Lá dentro o doutor com febre, tremia todo rasgado
Eu disse com muita calma: seu crime está provado
Por quem eu pedi ajuda estava sendo furtado
Portanto, a partir de hoje por mim está nomeado
Se esta é a lei do cão, meu cachorro é o delegado.