Dia cor de fumo na ventana
Temperando o preço do arroz
Subia torto os becos da esperança
Joelho rachado do samba pra depois
Epa Hey!
Sorria a dor de sua gente
E deslizava no aço da Central
Quem tem alma trancada em marmita
Nunca é destaque de jornal
Epa Hey! E o velho dizia
Está num gosto vulgar
Vem numa fita no cabelo
É esse eterno bacharel
Que desconhece quadro negro
Sua arte é de carne marcada
A sua fé é de vela e cativeiro
É a verdade do teu suor
Que nos agride com seu cheiro
Do sonho só fica a remela dessa gente amarela
Um terno ordinário pro domingo
Estampando a rotina encardida
Perdeu-se os olhos de menino
No calo d’alma e a carcaça mordida
Epa Hey!
Sertão seco na sola do pé
A morte caminha de tênis surrado
Pandeiro pra morena derreter
Aguardente pra queimar todo pecado
Epa Hey! E o preto dizia
Está em cada chão
Em cada enxada e em cada seio
Vem nas costas esfoladas
De um tempo sem começo
Sua cara é de poeira pisada
E o seu ventre é de Sol e terreiro
Se amontoa, se coça, se mija
Sem hora, sem moda, sem linha, sem vida, sem jeito
Do sonho só fica a remela dessa gente amarela
Do sonho só fica a espera dessa gente amarela
Do sonho só fica a remela dessa gente amarela