Toldo de couro pampeano
Que templou chuva e mormaço
Pelecha agora ao cansaço
Contra o cargueiro dos anos
Cruzou passos e atalhos
Pelos rincões da fronteira
Mais rijo que a pitangueira
Que forja teu cabeçalho
Rangendo eixo e buzina,
Navegou pelas canhadas
Orando a prece da estrada
Acalentando a minha sina
Tua canga de coentrilho
Sobre a junta se embalava
Feito bússola apontava
Os campos do espinilho
(Mateando no meu galpão
Miro a trempe carreteira
Que cinchava a chaleira
No crioulo fogo de chão
Recordo das carreteadas
Do velho tempo que foi-se
E arrebento as cordas-do-coice
Da carreta do coração)
Nos pousos e acampamentos
Recostado ao teu rodado
Bombeava o céu estrelado
Povoando o firmamento
Com os bois no pastoreio
E o meu pingo de sentinela
Ouvia o chiar da panela
Cozinhando um carreteiro
No ermo das madrugadas
Foste o ninho romanceiro
Deste amante carreteiro
Nestas terruñas jornadas
E nas ressolanas grongueiras
Com o muchacho ancorado
O recavém dava o sombreado
Pra minha séstia veraneira
(Mateando no meu galpão
Miro a trempe carreteira
Que cinchava a chaleira
No crioulo fogo de chão
Recordo das carreteadas
Do velho tempo que foi-se
E arrebento as cordas-do-coice
Da carreta do coração)