Escrevo letras de improviso como se espasmos soltasse...
Não há controlo, não há regra, não há trela que me cesse!
Solta-se a fúria à revelia na madrugada que espera
As mil memórias em pedaços na anarquia que impera.
Tento o escape pela noite porque o dia me tem preso.
Encontro o mar onde mergulho, revolto, e de crude espesso.
Fecho agora o meu passado e o presente a sete chaves.
No horizonte talho o espaço para voar como as aves…
Neste crude espesso são embargados os momentos
Numa cruel lobotomia que me tira os sentimentos.
Crude espesso! crude espesso!
Será que és mais macio do avesso?
E o vento forte que me beija traz veneno à mistura,
Num gesto falso que me arrasa e que me priva de uma cura!
No quente de uma cama mordo a flanela que me agacha,
E na almofada confidente encerro a vida numa caixa.
Se me quedo ao abandono definho como um vadio,
Prostrado numa lamacenta margem pérfida de um rio.
E para me querer erguer deste poço que me afoga,
Tenho que vencer esta vida que sempre me pôs à prova.
Neste crude espesso são embargados os momentos
Numa cruel lobotomia que me tira os sentimentos.
Crude espesso! crude espesso!
Será que és mais macio do avesso?