Não me traia, Helena de Tróia
Não me atraia para os teus portões
Não me traga o sabor da vitória em pequenas porções
Não se atrase pros teus compromissos
Não se atreva a me desafiar
Atravesse o que for preciso para me encontrar
Hoje eu quero te ver, ou quem sabe tentar
Não me abrace como seu amigo
Não me cace tal qual seu jantar
Não me passe a semana inteira de pernas pro ar
Não me prive dos teus pensamentos
Não me prove o que não pode ser
Me provoque e me aguce os sentidos quando anoitecer
Pois quero te ver, pelo menos tentar
Não confie no sexto sentido
Não confunda o bom e o ruim
Não afunde o navio antes que o filme chegue ao fim
Não importe idéias alheias
Não imprima sem antes olhar
Não preveja o futuro em um guardanapo de bar
Não pretendo te ver, nem ao menos tentar
Não me envie presentes de grego
Não me envolva em seus contos banais
Me devolva meus livros, meu espaço, minha cor, minha paz
Não me encante com seus improvisos
Não me encontre depois do jantar
Me esqueça e se lembre do que você puder lembrar
Eu não quero te ver, muito menos tentar
Pernambuco, Esparta, em qualquer parte
Reinos e ruínas aos teus pés
Sete anos, buscas e combates
E o mundo não sabe quem tu és
Através dos tempos, viras arte
Retratada em tintas e papéis
Longe, perto, distâncias a parte
No fundo, não sabes quem tu és
No fundo, quem tu és?