De manhã estava garoando
Eu tomei uma decisão
Fui passear lá na mata fechada
Fui andando até o espigão
Ao invés de uma foice ou machado
Eu levei a viola na mão
Fui fazendo alguns ponteados
Na raiz de um angico encorpado
Ali me sentei pra escrever esta canção
Com o tinido da minha viola
Toda a mata até parecia
Com o bailado nas ondas do vento
Satisfeita me agradecia
Garboso o maestro araponga
Os demais passarinhos regia
Orvalhar das folhas verdejantes
Parecendo pedras de brilhantes
Nos raios do sol até reluzia
Encostado no tronco frondoso
Cochilei até a volta do dia
Tive um sonho tão emocionante
E jurei quando dali saía
Angiqueiro temendo sua morte
No sonho assim me dizia
Um grande favor eu te peço
Diga lá aos homens do progresso
Através desta sua poesia
Eu sou a voz da floresta
Este apelo estou lhes fazendo
Quando a mata morre a água seca
E vocês não estão percebendo
Sou uma árvore de grande porte
Que as pequenas estou protegendo
Se me cortam no chão eu desmaio
E no tombo na hora que caio
Arrebento com os brotos que estão crescendo
São os rios, matas e animais
Que embelezam o nosso universo
Vem o homem louco por dinheiro
Ganancioso, maldoso e perverso
Mata a flora e acaba com os rios
Terminando outra vez eu lhes peço
Se a minha voz não for ouvida
Continuem destruindo a vida
Mas nunca em nome do tal do progresso